segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O que significa vender o Brasil lá fora? Que nível de Brasil vendemos?

Campanha Embrartur para vender o Brasil lá fora (anos 70).
Atenção: 

Esta nota foi publicada originalmente em 2003 em um provedor de blogs que fechou.  Em 2005 peguei todas as postagens do antigo provedor e colei tudo em novo blog (já da blogspot) o que o privou de visibiliodade. Pretendo resgatar mais postagens. Várias postagens falaram de "sete níveis" em várias áreas. Foi uma época em que eu estava apaixonado  pelo trabalho de Richard Barrett sobre os "Sete Níveis da Consciência Organizacional". Para mim, continuam, valendo.  

Notas do Turismo # 29
10 de maio de 2005


Hoje vamos falar sobre a “venda” do “Brasil” “lá fora”. O que é que vendemos? O que é Brasil? Por muito tempo vendemos a imagem do corpo de nossas mulheres. Ou melhor vendíamos partes ou fragmentos do corpo delas. Hoje já estamos arrependidos disso. E agora? Que vendemos?

O que é o Brasil? Vou dividir esta resposta em sete níveis: (1) Brasil Estado, (2) Brasil Nação, (3) Brasil Território, (4) Brasil Governo, (5) Brasil Povo, (6) Brasil Natureza e (7) Brasil Essência. Lembro que nada do que está escrito aqui é uma revelação divina. Parte das respostas vem de Weber. Outras de dicionários e outras fontes. Vejamos:

(1)
Estado é uma estrutura política que pretende, com êxito, o monopólio de uso legítimo da força física em determinado território. O Estado é uma relação de homens dominando homens”.
(2) Nação é o agregado de indivíduos que se encontram unidos por uma história comum, costumes, idéias, valores, conservando-se esta unidade pela consciência do povo que a forma.
(3) Território é a dimensão geográfica que abriga a instituição Estado.
(4) Governo é um conjunto de indivíduos, órgãos ou uma cúpula administrativa que estabelece leis, sentenças e promovem a sua execução.
(5) O Povo nós sabemos o que é. O povo é a alma da Nação.
(6) a Natureza – nós temos ideia do que seja. Mas para este propósito, Natureza será aquilo que não foi feito pelo homem, o seu meio, a paisagem, a orografia, a geografia, a hidrologia, a topografia, a fauna e a flora neles.
(7) A Essência, segundo o dicionário é “o que constitui a natureza de um ser, de uma coisa. O que há de fundamental. É o extrato – como no caso de um ótimo perfume. Qual é a essência do Brasil?

Com a exceção do Estado e do Governo, nós podemos vender ou incluir em nossas vendas todos os outros aspectos. O que eu vendo em turismo, vendo mas não entrego. Abro as portas para que “os outros” (os que vem lá de fora) usufruam dos aspectos de minha nação em meu território. Para que desfrutem da música, arte artesanato, literatura, monumentos, cidade, praias, florestas, rios, patrimônios naturais, culturais, intangíveis, para que mergulhem em nosso “Volksgeist” – o espírito da nação (coisa de Weber).

Mas há confusão sobre o que é Brasil. O Estado brasileiro (Federação), sua forma de governo (República), seu regime de governo (Democracia Representativa) e o sistema de administração (Presidencialismo) são todos de origem européia. Como Estado, somos filhos de Portugal e da Europa. Como “Território”, como “Natureza” somos filhos da Terra. Somos o Planeta.

Sinto, às vezes que o Brasil de instituições europeias, ainda não fez as pazes com o Brasil natural. Às vezes sinto que o Brasil da Essência foi despejado do território do Brasil República ou que o Brasil ainda não se fez carne e ainda não habita entre nós. É necessário diferenciar entre os diferentes brasis. Um Brasil onde tudo está conectado.

Muitos secretários de turismo e gente do “trade” ao retornarem de feiras internacionais, dizem: “os europeus pensam, que o Brasil só tem índio, mato e bicho”. Eles voltam nervosos. Ofendidos, com a auto-estima baixa. Por quê? Por que foram vender um Brasil europeu na Europa. Um Brasil que na Europa, não consegue competir com a Europa na sua “europaneidade”. Não deu tempo ainda para fazer do Brasil uma cópia exata da Europa (Graças a Deus). Por isso o desespero do Ministério do Turismo em querer que as Cataratas do Iguaçu sejam uma réplica de Niágara com traços da Disneyworld ou Disneylândia. Mas isso só acontece porque o brasileiro não descobriu o “Brasil”.

Antes da chegada dos europeus, o País era conhecido como Pindorama – a Terra das Palmeiras. Que palmeiras? O nome já dá uma dica. As palmeiras “pindó” ou “pindova”. Mas existiam muitas outras palmeiras: açaí, buriti, catulé, carandá Os europeus chegaram na nova terra e não enxergaram “pindovas”. Enxergaram o pau-brasil, que em 35 anos extinguiram. Creio que a diferença de visão começou aí. O Brasil milenar via o pindó. O Brasil europeu viu o pau-brasil. Daí até hoje não sabermos o que o Brasil tem!

E assim, ao ter dito estas palavras, acho que posso me dedicar ao que, realmente, desejo falar: de um turismo diferente. Não só do turismo de massa ou do eco-turismo. Mas de um ecopsicoturismo. Ou eco-turismo com espiritualidade onde gostaríamos de trabalhar os níveis 6 e 7 de nosso “Brasil”, com uma visão que parte da ecologia profunda.

Convido a todos ao “desvio” do território conhecido e que saiamos da mesmice e que conspiremos (co-inspiremos) o Holo-Brasil. Haverá mercado? Tchau!


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